É OUTONO
Faço um barco de papel e embarco, rumo às cenas
baralhadas de um sonho qualquer.
É outono e não sei dizer quem sou ou o que quero ser.
Os meus olhos são rios de palavras afogadas,
onde só posso ver a minha imagem disfarçada de mim.
Percorro então, uma a uma, as horas por viver
e descubro um arco-íris na minha boca
a gritar uma insónia íntima.
Dentro do meu sono ainda me perturba
a tua imagem, miragem do meu deserto
vencido, demora da minha espera.
Era feito de mármore o silêncio
dos teus olhos e por ele escorriam
as palavras que eu dizia, como se fossem água.
Esse silêncio doeu na minha voz,
quando as minhas mãos violaram os gestos
e, entre nós, ficou intacto o diálogo.
Sei agora a cor exacta do vinho
com que brindei à primavera em nome
da presença que tu eras e hoje, ao recordar-te,
sublinhei o sentido dos sonhos e do vento.
Foi o tempo em que a neve presente no teu rosto
gelou os meus lábios até à transparência.
Graça Pires, in blog «Ortografia do Olhar»
3 comentários:
Obrigada por divulgares. Um beijo Maria e Bom fim de semana
Através de ti fui ao encontro de outros olhares. Descobri poesia. Como se agradece?
Um beijo, Maria.
Quanto ao lançamento do livro do Tiago Nené, de que vi aqui o anuncio quero dizer o seguinte:
Estive lá.
escritor bonito
grandes poemas e diferentes
livro a bom preço
grande capa
aconselho
Bi.
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