A pequena lagarta
vê passar o outono
sem pressa de se tornar borboleta
Cai uma castanha…
Calam-se de súbito os insectos
entre as ervas
Crepúsculo:
as ervas parecem seguir
os rebanhos que recolhem
Ah este caminho
que já ninguém percorre
a não ser o crepúsculo
Acabou-se o óleo na lamparina
Mas… eis a lua
que entra pela janela
Outono –
empoleirado num ramo seco
um corvo
Matsuo Bashô, O Gosto Solitário do Orvalho, Assírio & Alvim
6 comentários:
O tempo passa, as estações insistem em não desistir de nos oferecer a sua inquietação dos momentos diversos, e nós temos que continuar a lutar em cada dia que chega.
rui, obrigada pela visita e pelas palavras.
a poesia tradicional japonesa sempre equacionou o instante preciso em que sentimos a presença do real, uma castanha, um corvo,... e pressentimos a existência de uma outra realidade, mais vasta, sujectiva, a mudança, a efemeridade,...
e o homem, natureza ele-mesmo (nesta perspectiva), vive essa duplicidade de instantes, os breves, objectivos e os mais amplos, que circunscrevem a sua existência.
E o equinócio está a chegar. É já amanhã, antes das dez da manhã que o Outono fará a sua entrada. A natureza vestir-se-á da cor da terra, despir-se-á depois mas tudo recomeçará.
Bom fim de semana!
beijinhos
Obrigado pelo comment sobre o meu livro.
Seria possivel colocares aqui um post a divulgar o lançamento de Lisboa?
Houve uma pequena alteraçao da hora e local.
estao aqui os dados:
www.tiagonene.pt.vu
Podes usar a capa.
obrigado!
Tiago Nené
Maria, gosto muito deste livrinho de que divulgas aqui alguns haikai de outono. Oportunamente, como lembra a sophiamar. É bom cultivar esta percepção dos ciclos, que Bashô canta delicada e precisamente. Gosto especialmente dos dois últimos haikai, o da lamparina, deslumbrado (we deslumbrante); acre e escuro o do corvo.
Soledade, obrigada pela visita!
também gosto dos haikai de Bashô (e de outros, que li dispersos). é uma poesia de grande contenção e depuramento, bela e atenta aos ciclos, como dizes, ciclos da natureza, o que já inclui o homem,(nesta "filosofia", ele-mesmo natureza também).
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