21 de setembro de 2007

LEITURAS # 18

A pequena lagarta
vê passar o outono
sem pressa de se tornar borboleta


Cai uma castanha…
Calam-se de súbito os insectos
entre as ervas


Crepúsculo:
as ervas parecem seguir
os rebanhos que recolhem


Ah este caminho
que já ninguém percorre
a não ser o crepúsculo


Acabou-se o óleo na lamparina
Mas… eis a lua
que entra pela janela


Outono –
empoleirado num ramo seco
um corvo


Matsuo Bashô, O Gosto Solitário do Orvalho, Assírio & Alvim

6 comentários:

Rui Caetano disse...

O tempo passa, as estações insistem em não desistir de nos oferecer a sua inquietação dos momentos diversos, e nós temos que continuar a lutar em cada dia que chega.

Anónimo disse...

rui, obrigada pela visita e pelas palavras.

a poesia tradicional japonesa sempre equacionou o instante preciso em que sentimos a presença do real, uma castanha, um corvo,... e pressentimos a existência de uma outra realidade, mais vasta, sujectiva, a mudança, a efemeridade,...
e o homem, natureza ele-mesmo (nesta perspectiva), vive essa duplicidade de instantes, os breves, objectivos e os mais amplos, que circunscrevem a sua existência.

Isamar disse...

E o equinócio está a chegar. É já amanhã, antes das dez da manhã que o Outono fará a sua entrada. A natureza vestir-se-á da cor da terra, despir-se-á depois mas tudo recomeçará.
Bom fim de semana!

beijinhos

Velasquez disse...

Obrigado pelo comment sobre o meu livro.

Seria possivel colocares aqui um post a divulgar o lançamento de Lisboa?
Houve uma pequena alteraçao da hora e local.
estao aqui os dados:
www.tiagonene.pt.vu

Podes usar a capa.

obrigado!
Tiago Nené

Anónimo disse...

Maria, gosto muito deste livrinho de que divulgas aqui alguns haikai de outono. Oportunamente, como lembra a sophiamar. É bom cultivar esta percepção dos ciclos, que Bashô canta delicada e precisamente. Gosto especialmente dos dois últimos haikai, o da lamparina, deslumbrado (we deslumbrante); acre e escuro o do corvo.

Anónimo disse...

Soledade, obrigada pela visita!

também gosto dos haikai de Bashô (e de outros, que li dispersos). é uma poesia de grande contenção e depuramento, bela e atenta aos ciclos, como dizes, ciclos da natureza, o que já inclui o homem,(nesta "filosofia", ele-mesmo natureza também).