2 de dezembro de 2009

LEITURAS # 30

recompostos de vento
surgimos do sinuoso obscurecimento.
trazemos uma matéria espessa colada às lágrim
aso embuste que embacia os lábio
se um rosto como um adeus
alongado pelo salitre do mundo.
pousamos o indecifrável nome das coisas
sequer a razão das fugas.
afinal quem fomos o que somos?
nós que um dia decidimos a trajectória dos passos pelos sinais do azul
obstinados no caminho onde os sussurros são mais cúmplices.
perseguimos a verdade de coisa nenhuma.
como companhia a incomensurável solidão das árvores
quando o sol se inclina com o peso das mãos cheias de febre.
quem somos se não sabemos regressar ao riso iluminado das crianças
à geografia de uma pátria que julgámos eterna?

recompostos de vento
surgimos para o lugar de nadas
as pálpebras cansadas de corpos invisíveis
até que a terra desperte de um doentio sono.

Maré, do blog Marés de Espanto

14 comentários:

© Maria Manuel disse...

Maré, obrigada pela partilha da tua linguagem poética, tão própria, única e criativa.

Mar Arável disse...

Sempre belas as nossas marés


Bem-vinda ao meu mar

Gabriela Rocha Martins disse...

excelências ,excelentes

( para que conste )



.
um beijo

hfm disse...

Como este poema me tocou!

maré disse...

à beira de nada
tocamos o princípio do corpo
e um trilho de abismos
na eternidade do rosto.

as mãos ainda de febre
a língua no extremo da sede
e uma pele trémula de folhas
na indecifrável razão das lágrimas.


_______

Obrigado Maria, muito obrigado pela ternura do gesto
um abraço, de mar.
um dia temos que nos conhecer, como conhecemos o mar que nos bate à porta

Paulo Lopes disse...

Fico sempre impressionado com a facilidade com que as palavras parecem brotar de ti. Já surgem assim repletas de poesia em todas as sílabas, ou os sussurros cúmplices saiem-te ao caminho assim que pegas na caneta?

PL

APC disse...

penetra-nos bem fundo este poema!
beijo, M.

vieira calado disse...

Sim, minha jovem amiga!

Você vai por bom caminho.

Acredito no seu futuro como poeta.

Beijinho

Henrique Dória disse...

Boa poesia e uma apresentação que já coloquei no odisseus. Voltarei sempre

Graça Pires disse...

A Maré sabe que as palavras se ajustam ao "indecifrável nome das coisas". É muito belo o pema.
Um beijo para as duas.

Ana disse...

"Como companhia a incomensurável solidão das árvores"

Belíssimo poema, Maria Manuel.
Obrigada pela partilha.
Um beijo.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Ela indaga , interroga , vagueia nas palavras , desnorteia-nos com o seu míster e mistério de palavras....
E?
E tu soubeste acolhê-la ...
Abraço a ambas
____________ JRMARTO

Licínia Quitério disse...

Abraços para as duas. Que lindo essa partilha de um texto soberbo!

Manuel Veiga disse...

excelente o poema. grato por dares a conhecer uma poetisa de qualidade.

beijo