2 de junho de 2007

LEITURAS # 1

As ondas paravam e depois voltavam a erguer-se, suspirando como uma criatura adormecida, cuja respiração vai e vem sem que disso se aperceba.

- Mesmo assim – disse Neville -, estas águas tumultuosas sobre as quais construímos as nossas plataformas são mais estáveis que os gritos selvagens, fracos e inconsequentes, que emitimos quando tentamos falar; quando argumentamos e pronunciamos frases tão falsas como estas: «Sou isto; sou aquilo!».

Todavia, as ondas, ao se aproximarem da praia, já não possuíam qualquer tipo de luz, caindo todas ao mesmo tempo com um baque surdo, tal como um muro a cair, um muro de pedra cinzenta, sem que qualquer brilhozinho as iluminasse.

- O silêncio vai caindo gota a gota – disse Bernard. – Forma-se no ponto mais alto da mente e vai-se acumulando em poças. Só, só, para sempre só, escutar o silêncio cair e estender-se em círculos até aos limites extremos. Saciado e farto, sólido devido à felicidade característica da meia-idade, eu, a quem a solidão destrói, deixo cair o silêncio, gota a gota.

Ao rebentar, as ondas espalhavam os seus leques brancos por sobre a praia, enviavam sombras brancas para os recantos das grutas, e acabavam por recuar, sussurrando por sobre o cascalho.

«A mente constrói anéis; a identidade torna-se mais robusta; a dor é absorvida no processo de crescimento. Sempre a abrir-se e a fechar-se, zumbindo cada vez mais, a velocidade e a febre da juventude são aproveitadas para o trabalho, até o ser nada mais parecer do que o mecanismo de um relógio. Com que velocidade a corrente segue de Janeiro a Dezembro! Somos arrastados por tudo aquilo que se nos tornou tão familiar que não chega a projectar sombra. Flutuamos, flutuamos…»

«O choque provocado pelas ondas quebrando-se contra a praia, o qual toda a vida escutei, deixou de fazer estremecer o que seguro.»

Virginia Woolf, As Ondas,
1931

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