21 de abril de 2013

LEITURAS # 50

A POESIA, segundo Jorge Luís Borges *



«Tenho apenas as minhas perplexidades para vos oferecer.

Aproximo-me dos setenta anos. Dediquei a maior parte

da minha vida à literatura e só dúvidas posso oferecer-vos.»


Na sua obra «Este Ofício de Poeta», registo de um conjunto de palestras que Jorge Luís Borges proferiu numa universidade, na década de 60, considera o autor que a poesia (que habita por trás das palavras, “ símbolos para memórias partilhadas”) é essencialmente a experiência de leitura, ou melhor, a experiência desse momento de encontro entre autor - palavra poética - leitor; nessa interacção, “A poesia é uma experiência nova a cada vez. De cada vez que leio um poema, sucede a experiência. E isso é poesia.”

Fala de si como escritor que, quando escreve, esquece as suas circunstâncias, ou tenta esquecer, sendo mais fiel ao sonho que pretende transmitir (e daí surge a ideia da universalidade da poesia, que assim ultrapassa circunstâncias espácio-temporais), mas principalmente refere-se como leitor, considerando que este (o leitor) procura “a beleza, não as circunstâncias da beleza”, que “o significado não é importante – o que é importante é uma certa música, uma certa maneira de dizer as coisas”, uma maneira capaz de despertar a emoção e/ou a imaginação do leitor (“sentimos a beleza de um poema antes de começarmos sequer a pensar no significado”).

Distingue naturalmente a palavra poética da palavra usada quotidianamente: “a ideia de que as palavras começam por magia e de que a poesia as devolve à magia é, ao que penso, verdadeira”. Traça assim o percurso da palavra, que terá surgido oralmente e, de algum modo, com uma função mágica, convertendo-se posteriormente em expressão abstracta. Será a poesia que busca reencontrar na palavra uma forma mágica, seja pela metáfora, seja pelo poder sugestivo do significante, a musicalidade que lhe é inerente, ou pelo modo como, retirando as palavras da sua trivialidade, as renova e nos surpreende, devolvendo-as à sua fonte primordial.

Concordando com alguns pensadores, entende que toda a arte aspiraria à condição de música, por ser esta a única em que “forma e substância não podem ser separadas”. Borges hesita, pois, na definição de poesia como «expressão» o que implicaria equacionar o problema da forma e matéria, evidenciando, em vez, «o que realmente é: uma paixão e uma alegria».


* Jorge Luís Borges: (1899-1986), escritor, poeta e ensaísta argentino.


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