RECADO
ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer – vai por esse campo
de crateras extintas – vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo – deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração – ouve-me
que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna – o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite
não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim – os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço
Al Berto, Horto de Incêndio, 1996
5 comentários:
Al Berto. Ando sempre com um livro dele por perto. Só dispenso mesmo os sessenta comprimidos...
http://www.restaurantefidalgo.com/alberto/AlbertonoFidalgo.htm
O poema é um incêndio. Al Berto é um poeta tão grande!
Beijo.
Coincidências que as afinidades nos trazem... hoje também escolhi um poema de Al Berto.
Um beijo.
Sempre um prazer incendiado reler Al Berto. Obrigada Maria M. e um grande beijo.
um dos meus poemas favoritos.
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