3 de junho de 2009

LEITURAS # 28

PAISAGEM CITADINA


A pele por fulgurantes
instantes muitas vezes abre-se até onde
seria impensável que exercesse
com tão grande rigor o seu domínio.

Não temos então dela senão rápidas
visões, onde os reclames
do coração se cruzam, solitários
e agrestes, reflectidos

por trás nos ossos empedrados.
Em certas posições vêem-se as cordas
do nosso espírito esticadas num terraço.

A roupa dói-nos porque, embora
nos cubra a pele, é dentro
do espírito que estão os tecidos amarrados.

Luís Miguel Nava, Poesia Completa 1979-1994

5 comentários:

Ana disse...

" É dentro do espírito que estão os tecidos amarrados"

Escolha poética que te define.
Um beijo.

Licínia Quitério disse...

Poesia...Poesia. Bela escolha, Maria M.

Beijinho.

~pi disse...

na cidade,

tudo, tudo

é por dentro

amarrado,

num lugar-sem-lugar,



beijo



~

Graça Pires disse...

"Em certas posições vêem-se as cordas do nosso espírito esticadas num terraço."
Poesia fantástica, a de Luís Miguel Nava.
Um beijo Maria M.

Manuel Veiga disse...

nada com por a alma ao sol. esticada na corda da pele...

gostei do poema.

beijo