Desenham-se no céu os números da solidão
por onde James Joyce conseguiu escrever o romance
Ulisses há-de sê-lo bem o meu coração
eu, a minha solidão, o meu transe
A chaminé na cidade deita o fumo da minha angústia
o meu desespero projecta a minha intoxicação
Ulisses, cidade de Dublin, eu, Lisboa, minha cidade
eu, Lisboa, a chaminé, o meu coração
O fumo sobe que sobe sobe que sobe e enche o ar
cidade de Dublin, Lisboa
também te vou cantar
Grande nostalgia do teu néon luminoso
a sentir-se dentro de mim e a dizer-se que já não posso
Aqui a enorme cidade aqui a tentacular
o meu crime é de estudar o céu que me invade
e onde arranha o arranha-céu
***
A música vinha duma mansidão de consciência
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada faria prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra
constrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento.
dois poemas de ANTÓNIO GANCHO, "O Ar da Manhã"
11 comentários:
um pássaro cansado da vertigem do antes na melancolia do agora
a melancolia "de estudar o céu"
obrigada maria.
um imenso beijo
Belos!
Não conheço o autor mas gostei dos poemas. Obrigada pela partilha. Um grande beijo, Maria Manuel.
O poeta atormentado (mais um) que nos deixou belos poemas.
Obrigada por o teres lembrado aqui.
Mesmo quando as palavras parecem desarumadas o sentido do poema está lá no mais íntimo da matéria e pode voar e voa se na leitura lhe dermos asas.
Um poeta que conheço mal , e fiquei com vontade de conhecer melhor !
enchem.se as manhãs com estes poemas atormentados
.
um beijo
Entre outras coisas boas, tens o dom da descoberta de gente pouco conhecida. Gostei muito. Beijinhos
Entre o azul de Lisboa e a bruma de Dublin...
Por vezes...
quantas recordações!
Saudações poéticas.
no cansaço da escrita ,espero.te ,no outro lado da manhã
.
um beijo
poemas "desgrelhados". e belos...
livres, portanto.
excelentes
enorme talento.
beijos
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